O país começa este mês (Junho) sua primeira grande experiência para
aproveitar a energia das ondas do mar. A primeira usina de ondas da América
Latina funciona no porto do Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza e será lançada
oficialmente durante a Rio+20. Para os pesquisadores, o local é um laboratório
em escala real onde serão ampliados os horizontes da produção energética limpa
e renovável.
O potencial é grande, asseguram. O litoral brasileiro, de
cerca de 8 mil quilômetros de extensão, é capaz de receber usinas de ondas que
produziriam 87 gigawatts. Na prática, de acordo com especialistas da Coppe, que
desenvolve a tecnologia, é possível converter cerca de 20% disto em energia
elétrica, o que equivaleria a 17% da capacidade total instalada no país.
Fronteira estratégica para a tecnologia
Antes de pensar em mais usinas no litoral brasileiro, porém,
é preciso testar conceitos e comprovar tanto a viabilidade quanto a
confiabilidade do projeto, que é financiado pela Tractebel Energia através do
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica,
com o apoio do governo do Ceará.
Dois enormes braços mecânicos foram instalados no píer do
porto do Pecém. Na ponta de cada um deles, em contato com a água do mar, há uma
bóia circular. Conforme as ondas batem, a estrutura sobe e desce. O movimento
contínuo dos flutuadores aciona bombas hidráulicas, que fazem com que a água
doce contida em um circuito fechado, no qual não há troca de líquido com o
ambiente, circule em um ambiente de alta pressão.
— Fazendo uma analogia com uma usina hidrelétrica, em vez de
termos uma queda d’água, temos isso de forma concentrada em dispositivos
relativamente pequenos, onde a pressão simula cascatas extremas de 200 a 400
metros — explica Segen Estefen, professor de Engenharia Oceânica da Coppe. — A
água sob pressão vai para um acumulador, que tem água e ar comprimidos em uma
câmara hiperbárica, que é o pulmão do dispositivo.
O mar tem sido encarado pelos pesquisadores da Coppe como
uma fronteira estratégica na qual o Brasil pode ser o líder tecnológico.
Somente no projeto da usina de ondas, foram investidos R$ 15 milhões em quatro
anos.
O Ceará não foi escolhido aleatoriamente. Sua grande
vantagem estratégica é a constância dos ventos alísios, resultado da rotação da
Terra. O movimento do ar gera ondas regulares no mar brasileiro. Elas não são
grandes, mas estão sempre batendo. Poder contar com o movimento praticamente o
tempo todo aumenta a eficiência da nova usina.
— Há alguns anos, o Brasil, por suas características, não
era incluído em debates ou fóruns internacionais. Hoje, entendemos que não
basta ter ondas grandes. Elas atuam em somente 20% do ano. Já as nossas batem
de forma constante em mais do que 70% do ano — afirma Estefen. — Desenvolvemos
o domínio tecnológico para atividades que, nas próximas décadas, vão acontecer
cada vez mais no mar, que cobre 71% das superfície do planeta.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido para que as
usinas de onda passem a fazer parte da paisagem brasileira. Os especialistas
evitam compará-las às hidrelétricas, que, em geral, têm custo de produção
quatro vezes menor.
Na corrida pela viabilidade desta tecnologia, o vento é o
principal concorrente. A energia eólica costuma ter a metade do custo. No
entanto, os especialistas esperam uma redução de custos com aumento da escala
de produção das usinas de ondas.
— Em alguns locais, há grande vantagem estratégica para a
usina de ondas. Por exemplo, há estudos para o arquipélago de Fernando de
Noronha, onde a energia vem da queima de diesel. Isso leva a riscos ambientais,
inclusive em relação ao transporte do combustível — ressalta o especialista da
Coppe.
Estação abastecerá o próprio porto de Pecém
Por outro lado, barreiras legais, além do custo, se
interpõem no caminho das usinas de ondas. Algumas das localidades consideradas
de grande potencial energético são preservadas por leis ambientais. Nestes
casos, seria necessário alterar a legislação, num processo que costuma suscitar
muita polêmica e, muitas vezes, resistência de associações locais.
— Há limitações para colocar dispositivos de conversão em
áreas de preservação ambiental. Temos que levar em conta os benefícios da usina
de ondas e os riscos ambientais que já existem hoje — alerta Estefan. —
Dependendo do local, apesar do custo de implantação, a usina de ondas se torna
mais competitiva. O Reino Unido entra com força nesta tecnologia porque julga
fundamental ter fontes de energia alternativas ao petróleo. Daqui a dez anos,
eles querem garantir que 20% de suas fontes sejam renováveis.
A energia gerada em Pecém será consumida no próprio porto.
Mas já há planos de ampliação da quantidade de braços mecânicos com bóias, que
captam a energia do mar convertida em eletricidade. Toda a estrutura é feita em
módulos, que podem ser acrescentados para aumentar a potência. Basta
acrescentar flutuadores.
Fonte : http://oglobo.globo.com
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